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A fome digital: por que assistir vídeos de comida causa prazer quase físico

  • Foto do escritor: Maiara Rodrigues
    Maiara Rodrigues
  • 23 de out.
  • 3 min de leitura

Atualizado: há 6 dias


Assistir a vídeos de comida desde o preparo meticuloso até alguém saboreando lentamente tornou-se um dos grandes fenômenos digitais. Mas por que isso provoca um prazer quase físico? Este texto explora como os vídeos de comida acionam os sentidos, as emoções e o cérebro de forma tão poderosa.


um close-up de mãos saboreando uma fatia de pizza com queijo puxando.

O cérebro visual da fome


Quando vemos comida atraente na tela, nosso cérebro reage quase como se estivéssemos diante de um prato real. A pesquisa mostra que estímulos visuais como alimentos bem apresentados ou vídeos de preparo ativam áreas ligadas à recompensa e ao apetite.


Por exemplo: ao assistir um vídeo de fatias de pizza sendo servidas, o cérebro avalia “quanta energia / prazer em potencial” há ali, ativa circuitos de antecipação e faz com que possamos “sentir” fome ou desejo mesmo sem cheirar ou tocar.


Curiosidade: Esse efeito é mais forte se você estiver com fome ou vulnerável ao apelo visual da comida.


Som, sensação e “quase comer”


Além da visão, o som tem papel importante: o crunch, o slurp, o tilintar de talheres tudo ativa mecanismos sensoriais que lembram a experiência de comer. Em especial, os vídeos do tipo mukbang ou ASMR alimentar exploram isso de forma intensiva.


Assistir alguém mastigar, sorver ou cortar e ver de perto faz com que o espectador, em certo grau, “coma com os olhos” ou “coma com a mente”. O resultado: prazer visual, antecipação gustativa e até alterações no apetite.


Recompensa, dopamina e desejo


Todo esse estímulo visual e auditivo ativa o sistema de recompensa do cérebro. Ver alimentos apetitosos desencadeia liberação de dopamina o “neurotransmissor do prazer” como se estivéssemos às vésperas de comer.


Por conta disso, os vídeos de comida provocam um tipo de satisfação antecipada: “o prazer antes do prato”. Isso explica o “quase físico” do prazer não apenas imaginar, mas quase vivenciar o ato de comer.


Função social e emocional dos vídeos de comida


Além dos sentidos, há fatores emocionais em jogo:

  • Convívio virtual: Quem assiste pode se sentir acompanhado, mesmo sozinho, ao ver alguém comer ou preparar comida. Isso reforça o apelo dos vídeos.

  • Novidade e curiosidade: Alimentos exóticos ou estilos de preparo diferentes estimulam a atenção, o que também reforça o prazer visual.

  • “Comer pelos olhos” como cenário cultural: Termos como food porn surgiram justamente para descrever essa glamourização da comida na mídia.


Potenciais armadilhas e implicações


Apesar do prazer, há riscos a considerar:

  • O estímulo constante aos vídeos de comida pode gerar aumento de apetite, desejo por comer mais ou comer mesmo sem fome.

  • Para pessoas com dificuldades alimentares ou que fazem dieta rígida, esse tipo de conteúdo pode ter efeito contraproducente ou desencadear ciclos de desejo e culpa.

  • Ver comida o tempo todo pode deslocar a experiência real de comer, tornando-a mais visual do que sensorial.


Por que “fome digital”?

O termo “fome digital” encaixa bem porque:

  • Há uma aparência de saciedade visual/mental mesmo sem consumo real.

  • A experiência digital (ver, ouvir, antecipar) impõe “sensações de comer”.

  • Os vídeos preenchem, de certa forma, o lugar do comer junto ou da preparação visual, especialmente em contextos de solidão ou distração.


Conclusão


Os vídeos de comida funcionam como gatilhos poderosos: ativam visão, audição, emoção e recompensa cerebral.


Eles produzem um prazer “quase físico” porque simulam o comer, antecipam o sabor e satisfazem parte da nossa fome visual e neurológica. Reconhecer esse mecanismo ajuda a entender por que consumimos tanto desse tipo de conteúdo e também como usá-lo com consciência.

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