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A estética do exagero: por que o fim do ano desperta nossa paixão por mesas exuberantes

  • Foto do escritor: Maiara Rodrigues
    Maiara Rodrigues
  • 29 de out.
  • 3 min de leitura

Quando dezembro se aproxima, algo muda na forma como olhamos para a casa. De repente, o minimalismo perde espaço para o brilho, as flores se multiplicam, e a mesa de jantar ganha protagonismo. É o momento em que a estética do exagero se manifesta com força total uma celebração visual que traduz o desejo coletivo de encerramento, reencontro e prazer.


Mesa de fim de ano repleta de flores, frutas, velas e louças coloridas.

Longe de ser mero capricho decorativo, o impulso de criar mesas exuberantes no fim do ano reflete movimentos culturais, simbólicos e até psicológicos. Entre o dourado das taças e o vermelho das frutas, há mais do que estilo: há memória, emoção e pertencimento.


Um olhar histórico: o luxo como rito de passagem


Historicamente, o excesso sempre teve um papel ritualístico. Desde os banquetes romanos até as ceias coloniais, o ato de reunir pessoas em torno de uma mesa farta simboliza prosperidade e gratidão. Em várias culturas, as festas de encerramento do ciclo anual sempre foram acompanhadas de abundância visual um antídoto contra a escassez simbólica e literal.


Com o tempo, o que era privilégio de elites tornou-se expressão acessível e adaptável. Hoje, a estética do exagero aparece em versões contemporâneas, das decorações artesanais aos arranjos feitos com frutas tropicais e louças herdadas. A ideia é a mesma: marcar o tempo e celebrar o que passou.


O exagero como expressão emocional


Psicólogos e antropólogos concordam: o fim do ano desperta gatilhos afetivos potentes. O desejo de “fechar o ciclo com beleza” mistura nostalgia, esperança e um certo escapismo estético. Em meio à correria e às incertezas, montar uma mesa exuberante é uma forma de controle simbólico transformar o caos em harmonia.


A explosão de cores e brilhos atua sobre os sentidos, trazendo alegria e energia. O dourado remete à luz e prosperidade; o vermelho, à paixão e vitalidade; o verde, à renovação. Cada elemento decorativo carrega significados que se repetem, geração após geração, reforçando laços familiares e culturais.


Das redes sociais à mesa real: o espetáculo compartilhado


A era digital potencializou esse fascínio. Plataformas como Instagram e Pinterest transformaram a mesa de fim de ano em cenário um palco onde estética e identidade se misturam. Influenciadores de gastronomia e design de interiores ditam tendências de mesas exuberantes, combinando maximalismo e estilo pessoal.


Mas não se trata apenas de aparência. O registro e compartilhamento da mesa também são formas de narrar a própria história: o que se come, o que se celebra, quem está presente. O exagero, nesse contexto, vira linguagem uma forma de dizer “eu vivi este momento com intensidade”.


O novo luxo: misturar, ousar e reaproveitar


Curiosamente, a estética do exagero atual não se apoia necessariamente no consumo excessivo. O novo luxo é criativo e afetivo. É comum ver mesas que combinam porcelanas antigas com copos de vidro colorido, flores colhidas do quintal com castiçais modernos. O importante é o impacto visual e emocional, não o valor material.


Essa reinvenção estética também reflete uma consciência sustentável: usar o que se tem, improvisar, celebrar o imperfeito. O exagero, nesse caso, não está no gasto — está na expressão, na mistura, no gesto de montar algo grandioso a partir do que se tem à mão.


Como criar uma mesa exuberante sem perder o equilíbrio


O segredo da boa mesa exuberante está no contraste e na harmonia. É o equilíbrio entre o “uau” e o acolhimento. Alguns princípios ajudam:


  • Camadas visuais: sobreponha toalhas, trilhos e sousplats para dar profundidade.

  • Cores e texturas: escolha uma paleta (ex.: dourado, verde e vinho) e varie nas tonalidades.

  • Alturas diferentes: intercale vasos, taças e velas para criar movimento visual.

  • Elementos naturais: frutas, folhas e flores trazem frescor e simbolismo.

  • Iluminação suave: velas e luzes amareladas criam atmosfera acolhedora.


Mais do que regras, são sugestões para transformar o ato de decorar em um ritual prazeroso e significativo.


O exagero como espelho da alma festiva


No fundo, o fascínio pela estética do exagero fala sobre o humano. Somos seres que buscam beleza e pertencimento, especialmente quando o ano termina. Cada prato bem disposto, cada vela acesa, cada flor escolhida com cuidado é uma forma de agradecer, de recomeçar e de afirmar, com todas as cores possíveis, que a vida merece ser celebrada.

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