Neurogastronomia do preço: quando pagar mais faz o vinho realmente parecer melhor
- Maiara Rodrigues

- 3 de out.
- 2 min de leitura
O preço de um vinho pode influenciar mais do que a carteira: ele também afeta o cérebro. Pesquisas em neurogastronomia mostram que valores mais altos ativam áreas ligadas ao prazer e à expectativa, fazendo com que o mesmo vinho seja percebido como mais saboroso quando rotulado como caro. Mas até que ponto pagar mais realmente muda a experiência?

O cérebro e o preço: um paladar moldado pela expectativa
Estudos de neuroimagem revelam que o valor associado a uma garrafa de vinho ativa regiões cerebrais ligadas à recompensa, como o córtex orbitofrontal e o estriado ventral. Em experimentos clássicos, voluntários provaram o mesmo vinho duas vezes: uma com etiqueta de preço baixo, outra com etiqueta alta. O resultado foi claro o vinho rotulado como caro foi descrito como mais complexo, equilibrado e agradável.
Essa resposta não é apenas cultural, mas fisiológica. A expectativa positiva aumenta a liberação de dopamina, reforçando a sensação de prazer durante a degustação.
Neurogastronomia do preço na prática
A chamada neurogastronomia do preço descreve justamente esse fenômeno: a percepção gustativa é modulada pelo contexto econômico e simbólico. Em restaurantes, vinícolas e lojas especializadas, essa influência se manifesta de várias formas:
Em jantares harmonizados: o mesmo vinho pode ser melhor avaliado quando apresentado como rótulo exclusivo.
Em degustações às cegas: a ausência de preço reduz o efeito, revelando que a qualidade percebida nem sempre corresponde ao valor pago.
Na decisão de compra: consumidores tendem a associar preços altos a maior sofisticação, mesmo sem comprovação objetiva.
O papel da cultura e do status
Além da reação cerebral, há um fator social. O vinho, ao longo da história, sempre esteve ligado a status e celebração. Pagar mais, muitas vezes, não é apenas sobre sabor, mas sobre pertencimento a um grupo cultural. A garrafa cara, em um jantar, comunica algo além do paladar: transmite distinção, cuidado com os detalhes e até poder econômico.
Vale a pena pagar mais?
Nem sempre. Vinhos de entrada podem surpreender em qualidade, e degustações às cegas frequentemente mostram que especialistas também são influenciados pelo preço. A lição, segundo especialistas em neurogastronomia, não é descartar os rótulos caros, mas reconhecer que o valor investido traz consigo uma camada extra de experiência psicológica, cultural e sensorial.
Para quem aprecia vinho, saber disso pode ser libertador: é possível desfrutar tanto de um rótulo premiado quanto de um exemplar acessível, entendendo que o prazer não está apenas na garrafa, mas também na forma como o cérebro interpreta cada gole.
Conclusão
A neurogastronomia do preço mostra que o valor do vinho não está apenas na produção ou no terroir, mas também na mente do consumidor. Pagar mais pode, sim, fazer o vinho parecer melhor ainda que seja o mesmo. Ao compreender esse fenômeno, o apreciador ganha consciência para equilibrar desejo, expectativa e prazer real à mesa.
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