Histórias da Culinária — A Origem do Beirute
- Tali Americo

- 21 de out.
- 3 min de leitura
“Beirute”, o nome, remete à capital do Líbano, mas o sanduíche é absolutamente brasileiro. Ele é fruto da miscigenação, da improvisação e da influência árabe na gastronomia paulistana desde meados do século XX. Vamos descobrir como ele surgiu, o que ele representa — e por que ainda conquista tantos corações e paladares.
Das migrações à lanchonete paulista

São Paulo, no início do século XX, recebeu muitas famílias de imigrantes vindas do Líbano e da Síria. Trouxeram ingredientes, temperos e técnicas, inclusive o pão sírio (também chamado “pão árabe” ou “pita”), que ganhou espaço nos cardápios de restaurantes e de lanchonetes de cozinha árabe.
Em 1951, o imigrante libanês Farer Sader, sócio do restaurante Bambi, na Alameda Santos, em São Paulo, criou uma receita inspirada por esse contexto: ele montou um sanduíche com pão sírio, rosbife, queijo muçarela, tomate e zátar — tempero árabe feito com tomilho, sumagre, gergelim etc.
Esse sanduíche ganhou o nome “Beirute” em homenagem ao país natal ou à capital do Líbano, embora não exista um equivalente exatamente igual no próprio Líbano.
O que levava (e o que carrega) o Beirute original
Na versão original, segundo relatos históricos:
Pão sírio
Rosbife fatiado
Muçarela
Tomate (e às vezes pepino em conserva)
Zátar (mistura de especiarias típica do Oriente Médio)
Com o tempo, surgiram variações que adaptaram o sanduíche ao paladar brasileiro:
Inclusão de ovo, alface, maionese, presunto ou lagarto fatiado em vez de rosbife.
Recheios mais generosos ou combinações ornamentadas como bacon, cebola frita, ingredientes de lanchonetes que transformam o Beirute em prato robusto.
O Beirute na cultura paulistana (e brasileira)
O sanduíche tornou-se símbolo da cidade de São Paulo: simples, rápido, reconfortante, um modo gostoso de almoçar ou comer fora. Ele se popularizou em lanchonetes, padarias, bares e restaurantes de influência árabe.
O restaurante Bambi original, que deu luz ao Beirute, fechou em 2012, mas o sanduíche sobreviveu e se multiplicou.
Hoje, marcas e casas de lanches vendem centenas de unidades por mês. Por exemplo, uma lanchonete citada publicou que vende cerca de 7.500 beirutes por mês, o equivalente a aproximadamente 250 unidades por dia, o que mostra quanto virou parte do cardápio habitual.
Semelhanças e contrastes com outras criações
O Beirute tem pontos em comum com outros sanduíches brasileiros:
Como o Bauru: queijo derretido, rosbife ou carne fatiada, tomate. A diferença principal está no pão (“sírio” / árabe) e nos temperos.
Como o misto-quente, em sua versão mais simples, pela lógica de queijo + carne + calor. Mas Beirute evolui mais pelos recheios grandiosos e pelas variações.
Também existe contraste cultural: o Beirute não é consumido no Líbano como é no Brasil — muitos dos recheios adaptados (como presunto, ovo, certas carnes) não se alinham às tradições islâmicas ou sírias clássicas.
Por que o Beirute segue conquistando
O sucesso do Beirute se deve, em grande parte, ao seu valor afetivo. Para muitos paulistanos, ele evoca memórias de infância, de lanchonetes antigas e de encontros casuais em padarias — é uma comida que “acalma” a fome e desperta lembranças. Sua versatilidade também explica sua permanência: o sanduíche aceita variações de acordo com os ingredientes disponíveis, os gostos regionais e até as preferências alimentares, podendo ser adaptado para versões vegetarianas, servindo tanto como lanche rápido quanto como refeição completa. Além disso, o Beirute mantém um bom equilíbrio entre custo e benefício — é farto, saboroso e acessível, funcionando como uma alternativa ao fast food tradicional, mas com muito mais identidade e história.
Conclusão
O Beirute é mais que um sanduíche: ele é um capítulo da gastronomia paulista e brasileira. Mistura cultura árabe, tradição de imigrantes, adaptação local e tanta criatividade quanto uma metrópole que, ao longo de décadas, construiu sua identidade a partir de encontros de sabores.
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