top of page

Histórias da Culinária: O Feijão-Tropeiro

  • Foto do escritor: Tali Americo
    Tali Americo
  • 23 de set.
  • 2 min de leitura

Atualizado: 9 de out.


O feijão-tropeiro não é apenas um prato, é um retrato da formação cultural e econômica do Brasil. Sua origem remonta ao século XVII, quando os tropeiros — comerciantes que cruzavam o interior do país em longas viagens — precisavam de uma refeição nutritiva, prática e duradoura. Na bagagem, levavam sempre feijão seco, farinha de mandioca ou milho, toucinho, ovos e, quando possível, carnes salgadas. O resultado era um preparo simples, mas energético, capaz de sustentar dias de cavalgada.


Feijão tropeiro remonta ao século XVII
Feijão tropeiro remonta ao século XVII

Da estrada à mesa das famílias


Com o passar do tempo, o feijão-tropeiro saiu das estradas para se tornar símbolo da culinária mineira, mas também ganhou versões em Goiás, São Paulo, Paraná e até no Nordeste. Em Minas, ele é presença obrigatória em festas, bares e restaurantes, muitas vezes acompanhado de arroz, torresmo e couve refogada. Já em Goiás, pode incluir linguiça caseira; no Nordeste, há quem substitua o feijão carioca ou o feijão-preto pelo feijão-macassa.

Segundo dados do IBGE, o feijão continua sendo a leguminosa mais consumida no Brasil: em 2023, cada brasileiro comeu, em média, 14 kg de feijão por ano — e boa parte desse consumo se dá em preparos típicos como o tropeiro. Em restaurantes de comida mineira em São Paulo, estima-se que mais de 60% dos pedidos incluem o prato no acompanhamento.


Variações e influências


O tropeiro inspirou outros preparos brasileiros. É considerado um “primo rústico” do baião de dois nordestino, que combina feijão-verde com arroz. Também guarda semelhanças com pratos portugueses de feijão com farináceos, embora no Brasil tenha ganhado identidade própria graças à mandioca e ao uso de carnes de porco.

Hoje, o feijão-tropeiro aparece tanto no PF do dia a dia quanto em versões mais sofisticadas, servidas em panelinhas de ferro em restaurantes renomados. Há inclusive variações vegetarianas e veganas, que substituem o toucinho e os ovos por legumes salteados ou proteínas vegetais.


Afeto e tradição


Mais do que comida, o tropeiro é memória. Para muitos mineiros, representa a mesa da avó, o almoço de domingo ou a barraca de feira onde o cheiro do feijão refogado com alho e gordura de porco se espalha no ar. É um prato que atravessou séculos sem perder relevância: simples, democrático e profundamente brasileiro.

Comentários


bottom of page