Afinal, o que é gastronomia? Cultura, técnica e o sentido de comer em sociedade
- Ana Beatriz

- 22 de set.
- 2 min de leitura
A palavra gastronomia circula com frequência em menus, programas de TV e redes sociais, mas seu significado vai muito além da cozinha. Mais do que receitas ou técnicas, ela envolve cultura, memória, identidade e até mesmo filosofia. Afinal, o que é gastronomia?

Definições clássicas
O termo foi popularizado no século XIX por Jean Anthelme Brillat-Savarin, autor de A Fisiologia do Gosto, que a definia como a “ciência do comer bem”. Para ele, gastronomia não era apenas preparar, mas pensar a comida — compreendê-la em sua relação com a natureza, a saúde e a sociedade.
Séculos depois, chefs como Ferran Adrià ampliaram o conceito, entendendo a gastronomia como linguagem artística, um espaço de criação que conecta tradição, ciência e inovação.
Gastronomia x Culinária
É comum confundir os dois termos, mas há uma diferença essencial: culinária é o ato de cozinhar, enquanto gastronomia é o ato de interpretar esse cozimento no contexto social, cultural e estético.
Fazer um feijão é culinária; compreender como o feijão molda a identidade brasileira é gastronomia.
A mesa como espaço antropológico
Desde as primeiras civilizações, comer nunca foi apenas uma necessidade biológica. Ao redor do fogo, do banquete romano ou da mesa de domingo, o alimento sempre serviu como instrumento de união, celebração e pertencimento.
Antropólogos como Claude Fischler destacam que comer é também um ato de identidade: ao escolher o que está no prato, reafirmamos quem somos, de onde viemos e a que grupo pertencemos.
Técnica, estética e experiência
Molhos franceses, cortes japoneses, fermentações andinas: cada técnica culinária guarda séculos de saber. A gastronomia, ao integrá-las, revela como povos diferentes traduzem sua relação com o mundo.
No século XXI, esse olhar ganhou uma nova camada: a experiência. Restaurantes hoje não servem apenas pratos, mas narrativas. Sons, iluminação, ritmo de serviço e apresentação fazem parte de um espetáculo que envolve todos os sentidos.
Gastronomia como economia e território
Além de arte e cultura, a gastronomia é também motor econômico. O turismo gastronômico movimenta bilhões todos os anos, transformando pratos típicos em símbolos nacionais: o sushi no Japão, a pizza na Itália, o ceviche no Peru.
No Brasil, a feijoada, o açaí e o churrasco não são apenas receitas, mas cartões-postais que projetam identidade e movimentam cadeias inteiras de produção.
Psicologia e memória
A gastronomia também habita o campo emocional. Quem nunca sentiu um “abraço” ao provar uma comida da infância? A chamada comfort food mostra como pratos carregam memórias afetivas e funcionam como elo entre passado e presente.
Nesse sentido, a gastronomia é tão psicológica quanto cultural: traduz sentimentos em sabores e dá forma concreta a lembranças.
Afinal, gastronomia é um ecossistema. Reúne técnica, cultura, memória, estética, identidade, economia e emoção. Ela transforma o ato de comer em experiência — seja na alta cozinha de um restaurante estrelado, seja no almoço de domingo em família.
Mais do que pratos, ela nos lembra que cada refeição é também uma história sendo contada.
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