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A influência da colonização portuguesa na culinária brasileira: um legado que atravessa séculos

  • Foto do escritor: Tali Americo
    Tali Americo
  • 7 de out.
  • 4 min de leitura

Quando os portugueses chegaram ao território que hoje chamamos de Brasil, em 1500, não trouxeram apenas armas, religião e normas de convivência europeias. Trouxeram também ingredientes, técnicas e hábitos alimentares que, ao se misturarem com as práticas indígenas e, mais tarde, com as africanas, moldaram a base da culinária brasileira.


A influência da colonização portuguesa na culinária brasileira

Se a mandioca, o milho e o peixe eram as colunas da dieta dos povos originários, foi o contato com os colonizadores portugueses que introduziu alimentos como o trigo, o azeite, a cana-de-açúcar, o vinho, além de doces e preparos herdados do Oriente por meio da Península Ibérica. Essa mescla transformou radicalmente o que se comia aqui e permanece viva até hoje, tanto nos pratos típicos quanto nas padarias e confeitaria brasileiras.


Do trigo ao azeite: os ingredientes que cruzaram o Atlântico


Entre os produtos mais marcantes trazidos pelos portugueses estavam o trigo, ingrediente que viabilizou a chegada do pão — ausente na dieta indígena. Até hoje, a presença do pão francês nas mesas brasileiras é reflexo direto dessa tradição.


Outro legado foi o azeite de oliva, símbolo da dieta mediterrânea. Embora o consumo em larga escala no Brasil só tenha se consolidado recentemente, sua chegada data do período colonial. O azeite era visto como alimento de prestígio, reservado às elites, e se tornou essencial em pratos de influência portuguesa, como o bacalhau.


A cana-de-açúcar, introduzida ainda no início do século XVI, foi talvez o ingrediente de maior impacto econômico e cultural. A partir dela, nasceu não apenas a base de nossa doçaria, mas também a aguardente que mais tarde se transformaria na cachaça, hoje símbolo nacional.


Sobremesas coloniais: ovos, açúcar e conventos


É impossível falar da herança portuguesa sem citar os doces conventuais. Vindos de mosteiros e conventos da Península Ibérica, essas receitas usavam fartamente açúcar e ovos, sobretudo as gemas, já que as claras eram usadas para clarificar vinhos ou engomar roupas.

Foi assim que chegaram ao Brasil sobremesas como pudim de leite, quindim (que ganhou coco na adaptação local), pastéis de nata, pão de ló e uma infinidade de variantes de doces à base de gemas e açúcar.


pastéis de nata

Até hoje, em cidades do interior, como Ouro Preto e Mariana, em Minas Gerais, é possível encontrar doces que remontam diretamente a essas tradições coloniais, vendidos em tabuleiros de rua ou em casas de doces seculares.


Pratos típicos: do bacalhau à feijoada


O bacalhau, símbolo absoluto da culinária portuguesa, atravessou o oceano e encontrou no Brasil adaptações próprias. A bacalhoada, prato servido especialmente na Páscoa e no Natal, é uma tradição que conecta diretamente as mesas brasileiras às portuguesas.

Outros exemplos são a caldeirada de peixe e a canja de galinha, de forte influência lusitana.

A feijoada, hoje considerada prato nacional, também tem raízes ligadas a esse encontro cultural. Embora associada à resistência escrava, registros apontam que o preparo de feijões com carnes já fazia parte do hábito português. No Brasil, essa tradição ganhou força, adaptando-se com ingredientes locais e tornando-se símbolo de identidade.


Bacalhau
Bacalhau está entre asheranças portuguesas no Brasil

Do convento à padaria: a herança das casas de forno


O hábito de frequentar padarias também é herança direta da colonização. A figura do padeiro português, presente nas cidades brasileiras desde o século XIX, consolidou a cultura do pão fresco diário.

São Paulo e Rio de Janeiro se tornaram grandes polos dessa tradição, com padarias de famílias portuguesas que, até hoje, ditam o padrão do pão francês, das roscas e das broas. A chamada “padoca” paulistana é, de certa forma, um dos retratos mais vivos desse legado.


Um legado que se atualiza no século XXI


Mesmo após cinco séculos, a influência portuguesa segue presente e em constante atualização. Restaurantes especializados em bacalhau, caldo verde, arroz de pato e polvo à lagareiro continuam a atrair clientes em capitais como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.

Já na confeitaria, casas de doces portugueses vivem uma nova onda de prestígio, com destaque para os pastéis de nata, que ganharam status gourmet e são servidos tanto em cafeterias modernas quanto em estabelecimentos centenários fundados por imigrantes lusitanos.

O fortalecimento dos laços culturais entre Brasil e Portugal também ampliou o consumo de vinhos portugueses, que hoje têm espaço de destaque no mercado brasileiro, especialmente nas regiões Sul e Sudeste.


Mais do que comida: identidade cultural


A influência portuguesa não se limita ao sabor. Ela ajudou a moldar a própria forma como os brasileiros se relacionam com a comida: o hábito de celebrar em torno da mesa, de valorizar sobremesas elaboradas, de transformar receitas em símbolos de identidade e afeto.

Ao olhar para uma simples fatia de pão, um prato de bacalhau ou um pastel de nata, estamos diante de marcas vivas de um processo histórico iniciado há mais de 500 anos e que ainda reverbera no cotidiano de milhões de brasileiros.

A culinária portuguesa, portanto, não é apenas uma herança: é um fio contínuo que costura passado, presente e futuro da gastronomia nacional.

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